FLOR DE LOTUS



BRANCA LUA

As figueiras balançam
ao vento,
exalam seu cheiro,
expulsam seu fruto.
Na rua negra faz silêncio,
todos dormem.
Um cachorro vira-lata, aqui e ali,
dorme.

Dorme nua,
a negra rua.

No céu, tu,
Lua branca a brilhar,
majestosa.

Eu aqui, nessa calçada,
o cheiro dos figos nas narinas,
a brisa me batendo na cara
somente eu,
um vinho e um violão,
e essa solidão,
que maltrata.

Restamos apenas nós, oh Lua,
companheiras,
nessa noite nua.

Brilhas,
e eu te olho.
Choro, 
e tu me afagas.

Lua cheia.
Branca Lua.
Maravilhosa companhia,
a tua.

Mas não te minto, por pudor,
trocaria sim,
essa maldita solidão
por um amor.

E ao invés de nós, Lua,
Seríamos três,
a bailar ébrios
na noite nua...
...oh branca Lua.

(Nathércia Sena - Flor de Lotus)



INQUIETAÇÃO

E essas palavras que não me deixam em paz?
Atormentam-me
Instigam-me...
Não suporto a confusão!
Arranco-as da mente,
da alma,
do coração 
(sei lá de onde)
arranco-as com a mão
e boto de caneta, no papel,
minha alma, sua tradução.

Ah se fossem as palavras
As culpadas do meu sofrer
Passava-lhe uma borracha
E acabava com o padecer.

Elas, contudo, apenas são
A mais perfeita e sublime tradução
Da inquietação que abraça
Quem se arrisca a viver!

(Nathércia Sena - Flor de Lotus)


RUAS DE ABRIL

... e vou caminhando por essas ruas de abril
hora coração inflado
hora coração vazio

sigo confusa por essas ruas de abril
não sei o que quero
não sei o que sinto
tudo é vazio

e tantas coisas acontecem aqui
e nada acontece em mim
por dentro, sou puro mármore


alma inerte

não sinto dor, não choro
toda e qualquer alegria, eu ignoro
quero apenas ficar quieta
aqui
podem me deixar?

por que eu tenho que sorrir?
hoje acordei com vontade de ser séria
talvez quando for de novo abril
eu já não seja o que hoje eu era

quando for de novo abril
quero que seja primavera
esse outono é morto
e minha alma treme de frio
por essas ruas de abril.

(Nathércia Sena - Flor de Lotus)




FELICIDADE INSTANTÂNEA

Que possa eu sentir por outro instante
aquela felicidade instantânea sentida
que possa eu guardar na memória
pra toda a vida
como é bom sentir essa felicidade pulsante

a que eu esperei no tempo sem saber
sem imaginar que a sentiria
e como a sentiria, a diante...
felicidade instantânea 
na eternidade de um instante.

(...)

Será que vendem em lata? Em pó?
ou será que só de um instante
entre eu e tu, sós
há de ficar na garganta
esse gosto de felicidade instigante?

pode ser que um dia vendam sim,
em lata
felicidade instantânea
e que sabe até,
integral.

(sonhemos)

(Nathércia Sena - Flor de Lotus)


* Poesias cedidas por Rejane Alcoforado de Sena (mãe de Nathércia).

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