"BORBOREMA CONTINUA ADORMECIDA" (OPINIÃO)

Borborema, 50 anos

A "deusa adormecida dos eucaliptais" como denominou o imortal Manuel Batista de Medeiros vai completar 50 anos. Foi cidade em 12 de novembro de 1959. O projeto que propunha o desmembramento do território de Bananeiras, criava o Município e a Comarca de Borborema foi do deputado Antônio Nominando Diniz e resultou de um acordo entre os deputados Clóvis Bezerra e Orlando Cavalcanti, ambos representantes do município repartido. O governador Pedro Gondim vetou a criação da Comarca mas sancionou o nascimento da nova cidade.

Seis anos antes, foi a vez de Moreno se emancipar. José Amâncio Ramalho era o chefe político de Borborema e vislumbrou a hipótese de Borborema passar a integrar o território do futuro Município. Chegou a oferecer ao meu pai, Arlindo Rodrigues Ramalho, o cargo de prefeito nomeado de Solânea. Meu pai preferiu aguardar alguns anos e ser eleito o primeiro prefeito de Borborema. Sucedeu a Antônio Barbosa da Costa, nomeado para instalar o novo município. As primeiras eleições municipais, em 1960, foram disputadíssimas, inclusive com os candidatos a vice-prefeitos desvinculados do prefeito. Ganharam os udenistas Arlindo Ramalho e Antônio Targino Leão, prefeito e vice, que disputaram o pleito com Rubens Guerreiro de Lucena e José Aguiar Bezerra, candidatos pessedistas. Na mesma eleição, foram eleitos Pedro Gondim, Governador e Jânio Quadros, Presidente.

Foi uma campanha feita de porta em porta. Naquele tempo, lembro bem, meu pai tinha em folhas de papel pautado, a relação de todos os eleitores, seus dependentes, apelido e residência. Saiu de casa em casa na zona rural montado em um cavalo que lhe fora emprestado pelo major Augusto Bezerra. No fim da tarde do dia 03 de outubro, encerrada a votação, o seu opositor colocou à disposição os veículos que dispunha para levar os eleitores de volta às suas casas. Aquele Rubens Lucena era um verdadeiro cavalheiro. Perdeu com grande honra e depois foi cumprimentar o vencedor. Coisa difícil de se ver naqueles tempos.

Nessa primeira campanha não houve comícios. No último dia permitido para esses eventos, na calçada de uma padaria, se ensaiou um pequeno comício de encerramento. Mal começavam os discursos, desligaram a energia elétrica, de propriedade dos herdeiros de José Amâncio Ramalho. No escuro, criei coragem pra o meu primeiro discurso. "Apagaram a luz, mas não vão conseguir apagar da consciência do nosso povo, a certeza da nossa vitória", disse.

Confirmada a vitória de Arlindo Ramalho com o duplo da votação adversária, dia seguinte, ele reúne seus eleitores em caminhões e jipes, na entrada de Bananeiras, todos descem e seguem em passeata até a residência do Major Augusto Bezerra. À frente da pequena multidão, o prefeito vitorioso vinha agradecer e devolver o cavalo emprestado.

Borborema continua a deusa adormecida. Agora, sem a sua plantação de eucaliptos, mas, com uma vontade imensa de acordar para o desenvolvimento.

Ramalho Leite. Correio da Paraíba. 10/11/2009




Imagens cedidas por Emília Luciano e Dulce Dulcinéia Freire